domingo, 19 de outubro de 2014

Carta

Nunca escrevi uma carta na minha vida. Pelo menos, não que eu me lembre.
Por isso escrevo esta, sem saber o que dizer, sem nem ao menos entender o que estou fazendo ao certo. Apenas sei que preciso escreve-la.
Como começar? Olá, como vai? Aqui vai tudo bem.
Não, você sabe que eu sempre fui muito direto e realmente, eu não quero me demorar a escrever isto aqui. Na verdade, não vejo a hora de terminar e poder ter uma noite tranquila de sono.
Eu estive na merda, por muito tempo. Mas de uns meses pra cá me encontrei feliz, cantarolando sem motivos aparentes. Era eu novamente. Fazia tempo que não encontrava esse cara andando por ai dando a cara a tapa e cantando Timbalada. Não me julgue, você conhece meu gosto musical, mas se conhecesse Timbalada entenderia como eles tem o dom de grudar na cabeça.
Voltando, eu estava bem, até que me citaram seu nome.
Seu nome realmente não importava, mas me atualizaram sobre você. E eu, fui cínico e sádico como só eu consigo ser. Debochei e revirei os olhos.
"Não me importo"
Mas você sempre me apunhala. E eu não sei o que é pior, realmente desejar sua partida, ou me deixar afetar de novo só por sua memória.
Meus pensamentos me tornam vil, de uma forma que não consigo lidar.
Sou sujo, baixo e infame. Meus amigos me olham e não me reconhecem. "Esse não é você", eles dizem. Mas sou.
E o golpe de misericórdia sempre vem, ao lembrar de que você se apoia em quem eu já me apoiei.
Você acaba comigo, me detona, me fode. Mesmo sem saber.
Eu vou me remoendo.
Por hoje chega? Ou só por hoje?
Vou por um fim em tudo que me faz recordar. Chega de você.
Essa carta não tem destino.
Sem endereço e sem número. Quero ela perdida por aí.
Ela não vem assinada e muito menos tem despedidas amigáveis.
Por favor, apenas vá.