domingo, 28 de maio de 2017

Aesart, o Arauto

I

Só se ouvia os cascos do seu cavalo.
A cidade inteira se aquietou.
Mulheres com olhos marejados,
Crianças aos prantos
E homens cabisbaixos.
Era Aesart, o Arauto.
O casco surdo de seu cavalo
Ecoava pelos ouvidos.
Uma mancha negra
Sobrevoava sua cabeça.
Aesart da mão negra
Carregava seu porta-estandarte.
A lua em quarto minguante
Com um corvo em revoada, 
Balançava.
Ninguém ousava se mexer
Enquanto aquele que prenunciava a morte
Se aproximava.

II

Mas nem sempre
A historia foi essa.
O Arauto, já foi enviado de outros Deuses,
Não apenas do Tenebroso.
Sua voz já prenunciou a paz,
Um dia.
Aesart não fora apenas o Arauto,
Já fora o Poeta, o Músico
E o Sábio.
Flertou com as Valkirias
Caçou o Kraken,
Bebeu com Bragi
E cavalgou entre os Reis Nórdicos
Pelos infintos campos de Valhalla.
Era o mensageiro dos Deuses,
Reis, Crianças e Mulheres.
Trazia consigo a paz, a morte
O nascimento e a guerra.

III

O Tenebroso
Querendo o Arauto apenas para si,
Ofereceu o que ninguém mais podia.
O Tenebroso lhe ofereceu asas
Para que pudesse entrar nos Campos Elísios
E rever quem mais amava.
Para isso, teria que renunciar 
Todos os outros Deuses.
Teria que esquecer o que era Paz e o Nascimento.
Teria que gritar a Guerra para levar a Morte.
Aesart assumiu as asas negras
E se entregou para o Tenebroso.
Dizem que nesse dia
O Sol não apareceu,
Pois as asas de Aesart o esconderam.
Quando as asas bateram a primeira vez
Aesart sentiu dor.
Mas mesmo assim continuou.
Ninguém sabe o que aconteceu nos Campos Elísios.
Mas quando voltou de la,
Já possui seu estandarte.
As asas haviam sumido,
Mas em troca,
Voltara com um Corvo em seu ombro.

IV

O Arauto desceu de seu cavalo
E todos se ajoelharam.
"Não jogue sua praga sobre nós!"
Imploram aos prantos.
A voz deles não o alcançava.
Ele era o mensageiro da Morte.
Por onde passasse
As doenças chegavam
E as plantações morriam.
Com aquele pequeno vilarejo
Não foi diferente.
Aesart chorava
Enquanto todos desfaleciam
Em sua volta.

V

O Arauto voltou para seu cavalo
E seu Corvo se acomodou em seu ombro,
As vezes tinha a impressão que já existira Luz.
Mas já não sabia o que a Luz era.
Tinha medo e uma missão.
O medo era do que?
Pois o Arauto nunca temeu o Tenebroso.
Sua missão era para quem?
Se nem o Tenebroso a conhecia?
Quem poderá prenunciar a paz
Ao coração do mensageiro dos Deuses?
Apenas ele pode responder essas perguntas,
Pois apenas ele carrega a voz dos justos.
"Deixe-a voltar"
Gritava o Corvo.