segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Não Se Atrase

Ainda não inventaram uma fórmula mágica para leituras de mentes. Ainda mais a distância.
Mas se existisse, eu não pensaria duas vezes e usaria em você.
Quero saber tudo que pensas, a cada instante. Quero saber se pensa em mim, ou se ao menos se lembra de mim, mas pelo nome, e não "aquele-cara-lá".
Talvez saber o que você pensa a todo instante seja um pouco obsessivo, tipo o Sting em Every Breath You Take. Eu só quero saber se você quer saber de mim.
Mas é só conversar!
Não. Não é tão simples.
Eu quero saber sem ter que me arriscar ao ridículo. Eu já sou tachado de louco, imagina se eu incentivasse essa Síndrome de Carroll(Creio que essa síndrome nem exista, mas não quero ser o cara que confirmou sua existência).
Já enchi esse texto de asneiras de todos os generos, não queria que ele fosse assim. Mas fiquei desnorteado a maior parte do tempo esperando mais uma selfie sua. Mais uma citação musical, apostando comigo mesmo "Agora vai ser Gadu ou Mallu. Mas pode ser Cícero também..."
Eu te espero escrevendo esse texto.
Mas sempre que você chega, eu desisto.
Uma hora vai ser tarde. Como sempre acontece.
Estou sempre atrasado, mesmo comigo no devido lugar.
Preciso acertar meu relógio.
Rápido.

domingo, 28 de dezembro de 2014

House

Estou novamente assistindo House M.D.
Da primeira vez que vi a série, eu quis ser como Gregory House, sem tirar nem por nada. Eu queria sua arrogância, sua inteligência, seu humor ácido, o desequilíbrio emocional ressaltando suas altas manifestações de sociopatia; e principalmente sua perna manca, que aliás, vem acompanhada de doses cavalares de Vicodins.
Passou o tempo e eu adquiri algumas coisas. Humor ácido e seu desequilíbrio emocional confirmados. Inteligência não a seu nível, mas creio que consiga resolver alguns "puzzles" da minha área. Alguns dizem que desenvolvi uma arrogância que não existia em mim. Não sei.
O que me falta? Sociopatia e uma perna manca? Sou introvertido, isso não basta? Não. Ou melhor, não é só isso que falta. Me falta a indiferença, o sadismo, o prazer em desvendar mistérios. Me falta não ter sentimentos. Pelo menos não transbordando por toda parte. Nenhum seria melhor.
Meu sonho era ser essa casca de ser humano rancorosa, sociopata, vingativa e genial.
Era meu sonho. Até eu assistir novamente e perceber que eu não queria ser exatamente o House. Eu queria ser o oposto do Wilson.
James Wilson. O oncologista. O amável, bonzinho, sentimental e o único amigo do intragável House.
Percebi que tudo que eu gostava no House, era o que eu odiava em mim. Odiava no Wilson.
Quando eu vejo Wilson segurando a mão de seus pacientes terminais, sentindo suas dores na hora de dar a sentença no final. O fato de guardar todas as coisas ganhas somente para recordação. Sempre se importar com os outros, colocando muitas vezes o bem estar dos outros acima do seu.
Como eu te odeio James Wilson.
Você tem medo de manipular seus pacientes e familiares, mesmo tendo total controle sobre eles. Covarde, diria House.
Você é patético por se importar com tudo e com todos. Eu diria.
Eu queria ser House, pois estava cansado de ser Wilson.
Hoje, quando vejo cenas das conversas entre House e Wilson, me lembro de diversas conversas que tive com alguns amigos meus. Nenhum deles eram O House, mas alguns se aproximavam. Bastante. Consigo ver que os dois eram sozinhos, cada um de seu jeito.
Está na hora de me livrar desse fardo House e Wilson. Encontrar uma saída minha, de preferência mantendo as coisas boas do Wilson.

Enquanto eu termino isso, Adriana Calcanhotto canta "Esquadros" no meu rádio.

"Eu ando pelo mundo
E meus amigos, cadê?
Minha alegria, meu cansaço
Meu amor cadê você?
Eu acordei
Não tem ninguém ao lado"

Que conveniente.

quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

Real

Estava jogado novamente no chão de meu apartamento. Não tinha recordações o suficiente para descrever o motivo de meu corpo estar estirado ali, nem o local em que eu estava e nem com quem eu estava.
Meu apartamento era um breu. Sentia o frio passar por alguma janela aberta e sem poder fazer nada para mudar minha situação, lá fiquei.

- Querido, o que aconteceu com você?

Senti um abraço tão caloroso que me aqueceu daquele frio que eu sentia. Não conseguia responder suas perguntas, muito menos suas carícias.

- Está tudo bem agora. Eu estou aqui.

Estava tudo bem, ela estava comigo. Ela estava ali por mim até nesses momentos mais dolorosos e incapazes da minha vida. Eu podia senti-la como nunca. Seu amor, sua cautela, minha felicidade por tê-la ali. Por sua visão, provavelmente eu era um moribundo, mas mesmo assim, ela permanecia ao meu lado. Mas por que?
Senti um aperto em meu peito. Uma angústia que nunca havia sentido antes dominou meu ser. Eu quis gritar de medo, mas antes que eu pudesse fazer qualquer coisa, lágrimas começaram a rolar sem minha permissão. Elas escorriam pelo meu rosto e repousavam nos ombros dela.

- Não chore meu querido. Eu estou aqui. Somente eu e você.

Ela sentou-se ao meu lado e me aninhou em seu peito. Com uma das mãos ela acariciava minha cabeça, com a outra segurava com toda força do mundo minha mão. Eu não a merecia. Eu chorava e mesmo sem saber o porquê, ela continuava ao meu lado. Ela era minha rocha e só de pensar nisso as lágrimas escorriam mais e mais. Ela cantarolava musicas antigas para me acalmar, as vezes canções de ninar, as vezes Tom Jobim.  
Em algum ponto, entre lágrimas e músicas, caricias e apagões, eu reuni um pouco das minhas forças. Precisava contar de meus medos. O porquê de minha fraqueza. Ao sinal da primeira silaba sair de minha boca, ela me interrompeu imediatamente.

- Não precisa dizer nada querido. Palavras  só irão estragar este momento. Estragar sua cura.

Seus olhos eram sinceros, mas eu simplesmente não podia ser tão fraco. Eu não era fraco daquele jeito. Ela me amava acima de tudo, eu podia sentir. Ela merecia minhas explicações. Então sem hesitar, joguei minhas palavras mais sinceras. O que eu mais tive medo de admitir, aquilo que eu nunca achava palavras para me expressar. "Eu vi minha vida sem você querida. E eu tive medo pela primeira vez. Me perdi sem saber como continuar sem você, o que eu era sem você. Eu jurava que eu não ia aguentar mais uma hora que fosse sem você, simplesmente uma vida sem teu amor não é possível. Foi tão real e tão doloroso que sinto a magoa e aflição até hoje. Por favor, não me deixe querida. Me abrace até o fim."
Seus olhos encheram se lágrimas e suas mãos tremiam. Ela continuava a me olhar, até que beijou minha testa e me abraçou mais forte , cantou mais alto e mais do que nunca. Quando a melodia havia chegado ao seu fim e meus olhos já quase não ficava mais abertos ela sussurrou quase pra si mesma.

- Eu pedi para que não dissesse nada querido. Agora tudo é real.

Ela foi embora sem que eu percebesse. O breu no meu apartamento continuou e ficava cada vez mais frio. Aos poucos, eu ia me esquecendo dela, mesmo que eu não quisesse. Simplesmente, já não lembrava mais do seu rosto ao acordar.

Platônico

"Não dá. Isso que a gente tem é amor platônico."

Foi a última coisa que ela me falou antes de levantar da mesa, sair pela porta da cafeteria e nunca mais dar notícias.
Passei muitos anos tentando entender o que foi aquilo. Um dia era paixão, no outro platônico.
Aliás, platônico?
Anos mais tarde fui descobrir o significado de amor platônico. Aposto que nem ela sabia. Viu que tinha amor no meio e usou pra não me magoar. Mas dizer que nosso amor só existe no plano espiritual é gozação. Que nunca houve interesse carnal ou material?
Hoje eu não diria platônico, querida.
Eu diria amor veneno, por ter me esquentado, queimado, doido de diversas formas. As vezes me tirando da realidade, as vezes me transformando em um pedinte de ar.
Doía tanto, que esse amor se transformava em algo tangível, que no ato de apertar o peito, era como se ele fosso concreto, massivo, como um tumor maligno no meu coração prestes a desencadear uma metástase.
Mas ao mesmo tempo, ele era um amor ópio, que me relaxava, fazendo esquecer minhas dores e meus problemas. Como se tudo fosse perfeito e a humanidade abençoada. Mas como no ópio, era tudo ilusão. No final as dores voltariam, com efeitos colaterais adicionais: falta de ar, tontura, ansiedade, apatia e deterioração intelectual.
Platônico? Só pode existir um amor platônico se os dois se sentirem da mesma forma, caso contrário, toda a filosofia por trás do platônico é quebrada.
Mas eu não sabia. Deixei estar. Baixei minha cabeça e aceitei o fardo de carregar um amor platônico pelo resto da minha vida. Porém, se naquela época você me dissesse que não dava por ser um amor socrático, eu compraria da mesma forma. Amor cego. Burro.
Hoje, de tudo que nosso amor foi, e de tudo que ele poderia ter sido, o mais perto que ele poderia ser denominado seria amor monolítico-egoísta. Um só ama.

O outro espera uma desculpa pra ir embora.

sábado, 20 de dezembro de 2014

Monique

Monique tinha vivido eternamente a mercê das vontades de seus namorados.
Tinha parado de beber, parado de fumar. Voltado a fumar. Parado de fumar e voltado a beber. Voltou a fumar e beber.
Suas fases dependiam de seus namorados, de seus amores, suas paixões, suas vidas eternas em quanto durasse.
Monique perdeu diversas vezes os amores de sua vida, chorou, morreu, bebeu, sorriu e encontrou outro amor. E repetiu o ciclo.
Ela era daquelas que faziam de tudo para deixar um homem feliz, até assistia futebol! Aliás, seu time do coração era o time do coração do homem do seu coração. Do momento.
Até que uma hora, Monique cansou disso tudo. Cansou de se perder em amores eternos que duram dois meses. Cansou de ter mais camisas de diversos times de futebol em seu armário do que sapatos. Ou até mesmo livros. Monique adorava ler. Mas só lia se seu amor necessitasse de alguém que lesse. Caso contrário, bebia. Ou fumava.
Mas Monique disse chega. Chega! Disse Monique. Mas após Monique dizer chega, ela conheceu Martinho.
Monique percebeu na hora que Martinho era tudo o que ela precisava, pelo menos por hora.
Os dois começaram a sair e Monique se dedicou pra fazer dar certo. Monique poderia ganhar o Nobel da Melhor Namorada. Mas Martinho não queria saber de namorar. Ele queria festa, bebida e curtição. E por consequência, era isso que Monique queria. Mas, Monique queria curtir a vida agora. Adeus Martinho, vou curtir.
Não entendendo nada, Martinho implorou sua volta, chorou e ajoelhou. Monique sentiu seu poder, mas por Martinho já não sentia mais nada.
Qualquer dia a gente se esbarra por aí.
Monique foi embora.
Martinho ficou.
Monique foi feliz descobrindo como realmente era. Gostava de beber, mas não de fumar. Odiava futebol. Amava ler. E o mais importante, não queria ninguém, queria apenas ela mesma, pelo menos naquele momento.
Martinho se tornou dependente de suas namoradas futuras, amando mais que tudo e vivendo eternamente a mercê das vontades delas.