segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Sonhos de pó

Carros pegando fogo, mulheres gritando, tiros e pó.

Dormi vendo Narcos. Sonhei com guerrilhas, farinha de nariz e formas de se lavar dinheiro sujo. Porém no meu sonho, o dinheiro estava sujo mesmo. Lama, sangue e petróleo. Coincidentemente as três coisas que regem nossas vidas modernas.
Acordei pedindo água. E eno. Maldito seja rodízio de pizza e minha vontade avassaladora de vencer a pizzaria. Saio de lá me sentindo um vencedor. Acordo amaldiçoando meu eu do passado e preferindo ter sido um mero espectador.
Eno, bocejo e banheiro. São 7:00. Muito cedo e minha manhã de feriado não parece um feriado. Parece uma segunda qualquer. Parece que segundas vencem feriados.
Volto pro meu quarto. Lá tenho aqueles que velam meu sono. Meus quadros e só meus. Cuidam de mim quando fecho os olhos e os terrores da noite surgem. Sou uma criança com medo de escuro. Na falta de um ursinho, tenho um Don Corleone olhando cada passo de quem se movimenta pelo meu quarto.
Me arrumo naquelas cobertas. Fecho meus olhos e me reviro. Milhões de pensamentos de uma vez só. Queria uma ilha, um amor, um exército, ser viciado, vencer o câncer, dormir por meses consecutivos, não voltar pra casa por meses consecutivos, te uma religião, comer pastel, saber o nome daquele ator que fez aquele filme em que tudo explode e ele fica vivo no final, fazer uma torta de amora. Onde eu acho amora? Aliás, setembro é época de amoras?
São tantos quereres que me envergonho. Sou tudo aquilo que Gil Vicente condenou. Que Bukowski desprezou. Que Leminski conseguiu transformar em arte.

Pilhas de dinheiro queimando, vasos quebrados, piscinas enormes.

Meu despertador toca. 8:00. Esqueci desliga-lo bem no meu feriado.
Banheiro, água. Olho pro eno. Se controle.
Deito novamente.
Droga, sinto uma fome gigantesca e meus olhos pesam.
Escolho dormir. Ainda mais com essa chuva que começa. Bate na minha janela como meteoros prestes a entrarem em nossa atmosfera e reiniciar nossa existência.

Sotaque torto do Wagner Moura, tortas recheadas com cocaína e Maria Antonieta declara a libertação dos palestinos e todos comemoram com pastel e muito caldo de cana!

Estou sozinho no quarto.
Só penso naquele pastel maroto.
Falo sozinho "É feriado gente"
Deixo a fadiga de lado e levanto.
Pastel de queijo ou de carne? Me pergunto.
Queijo com carne. É meu feriado.