terça-feira, 24 de junho de 2014

Muitas Horas Nessa Calma

Hoje tudo que eu quero é minha calma de volta.
Sinto como se ela tivesse sido roubada nesses últimos dias.
Perdi a cabeça e a insanidade tomou conta de mim nesse tempo. Eu preciso de minha calma.
Não sei quem sou sem ela. Fico entre o que fui e o que não fiz, o não ser e o incrível. Não sou.
Mas seu eu tivesse minha calma de volta, teria tudo e mais um pouco. Teria minha confiança e minha paz. Teria, quem sabe, você.
Mas teria o que preciso pra sobreviver.
Me tire tudo, só não tire minha calma. Aquela calma que surge nos momentos mais intensos e complicados. Que ameniza minhas dores.
Aquela calma que eu tive que achar, bem no fundo de mim no momento mais difícil que já tive.
Então eu suplico, não tire minha calma. Não peço nem uma dose. Apenas minha calma.
E se for possível, adicione muitas horas nessa calma.
Vou precisar.

sexta-feira, 20 de junho de 2014

Meu Sonho

Hoje eu não queria levantar. Assim que eu colocasse meus pés no chão, minha vida não seria mais a mesma. Seria real, eu não teria mais você.
Como explicar em poucas palavras minha vida sem você?
Caos?
Tive que levantar. Você já tinha ido há anos, mas eu insistia em repetir aquela noite em que tudo aconteceu. Tentava mudar minhas palavras, meus atos, meu amor. Nada adiantava, sempre acaba tudo igual. Sempre acabava sem você.
Levantei. Minha janela estava aberta e o inverno cortava meu rosto. Queria sentir frio, pois assim sabia que ainda estava vivo, sabia que estava acordado. Em meio a tantas tentativas de mudar, meus sonhos se misturaram com o real. Precisava de um norte. Não tinha para onde fugir, aquela era minha realidade, era onde eu deveria estar.
Mas eu não queria.
Eu queria você minha amada, seu abraço acolhedor. Seu sorriso reconfortante. Eu precisava fazer algo.

O frio estava mais forte eu meu rosto. Eu precisava de você, mais do que a Primavera necessitava desse Inverno que assolava minhas noites.
Eu precisava de um sonho onde você nunca partisse.
Um sonho eterno.

quinta-feira, 19 de junho de 2014

Aquela Música

Tem dias que a vontade é apenas essa. Ficar o dia inteiro parado. Deitado de preferência.
Tomando uma Bud. Não posso pedir mais que isso, então tá bom.
Mas às vezes, mesmo com esse dia "perfeito", sinto um tédio monumental.
O que fazer pra afastar esse tédio ridículo? Ainda não descobri, mas estou fazendo diversas tentativas.
Em um desses tédios momentâneos de minha vida, resolvi escutar algumas músicas, e tinha uma que não saia da minha cabeça.
O problema é que eu não sabia o nome da música, é claro.
Como qualquer pessoa normal, fui atrás da maldita música.
Eu tinha o ritmo, uma palavra e o gênero.
Mas, por incrível que pareça, se você colocar "tantantan tantantan father electro fucking house" o google não consegue encontrar.
Na minha fúria de ser incapaz de encontrar uma simples música na internet, fiz a coisa mais sensata da minha vida.
Entrei no facebook, abri a conversa com a Aninha, e falei "conhece uma música que tem o ritmo tantantan tantantan fala de father no meio e é de electro fucking house?".
O que ela me respondeu? "Don't You Worry Child, Chico?". Sim. Ela acertou a música.
Deixando de lado essa capacidade mítica de descobrir músicas da Aninha, fui ouvir a bendita música.
Veja, meu gosto musical não inclui o gênero da mesma procurada, mas por algum motivo minha alma pedia pra ouvi-la.
Bom, que merda poderia acontecer, né?
Coloquei o nome da música no youtube. Dei play. Tomei um gole da minha Bud.
Enquanto ela tocava, lembrei que tinha um pouco de amendoim no armário.
Resolvi pegá-lo. Assim que me sentei novamente na cama, foi que parei pra ouvir com atenção a música.
A se eu pudesse socar minha alma. Uma música que não é meu estilo, que tem um refrão que gruda, e até que tem um clipe bacaninha, não é pedido por seu subconsciente por acaso.
Primeiro "Child", seu coração foi partido? Acostume-se, sério! Conselho bacana do tio.
Segundo, a única coisa que faz planos pensando em você é a vida. E a vida só quer te foder.
Desculpa ser tão direto Chico, quer dizer, "Child"...
Tomei mais um gole da Bud e dei replay na música.

quarta-feira, 18 de junho de 2014

Mais Um Dia

No meio.
Lá estava eu. O elevador estava vazio. Como sempre. Ninguém acorda cedo nessa droga de prédio?
Olho para o espelho. Estranhamente, estava sem sono, apesar de ser seis horas da manhã.
Não tinha do que reclamar do meu emprego, apenas de ter que acordar cedo, é claro.
Ser professor tinha seus altos e baixos. Baixos eram os salários. Bem baixos, aliás. Altos? Bom...
Não vamos falar disso agora. O elevador descia e eu me olhava no espelho. Quando eu tinha tirado minha barba?
Estava tão ocupado entre dormir, beber e lecionar que nem me recordava de ter tirado a barba.
Mais um toque do sinal. Pra qual sala irei agora? Estava no meio do pátio.
Meus livros de matemática estavam em minhas mãos. Crianças gritavam e adolescentes riam.
Precisava descobrir a sala seguinte urgentemente. Se eu demorasse muito, a sala iria virar uma selva.
Crianças selvagens. Nem doces para acalma-las.
O elevador subia. Dessa vez eu não estava sozinho. Lá estava ela. Que mulher incrível.
Era linda. O amor da minha vida. Entrei e apertei o número sete. Ela se virou e me abraçou.
Disse que estava com saudades. Que me amava. Bom, se é assim, retribui o seu amor.
Estava no meu quarto. Com sono. A cama me chamava, mas não queria me deitar. Tinha que levantar cedo amanhã.
Tinha que encarar essa minha rotina louca.
Me deitei.
O despertador apita.
Passo a mão em meu rosto e minha barba está lá.
Era tudo um sonho? Realmente fazia meses que não sonhava.
Talvez eu tenha perdido a capacidade de separar sonhos de realidade.
Perdi o amor da minha vida e dessa vez eu nem sei por quê. Mas tudo bem.
Pelo menos eu não era um professor de matemática. Isso foi um grande alívio.

terça-feira, 17 de junho de 2014

Eu Deixei Assim

E foi assim. Do nada.
Queria sair de casa. Estava enfurnado no meu quarto a dias. Precisa de ar.
Foi aí que decidi fazer algumas ligações. E que decisão eu tomei.
Veja, chega uma hora em sua vida em que você percebe que todos os seus amigos estão casados ou namorando.
Menos você. Você é um bosta. Mas tudo bem, encontrei quatro bostas que nem eu para dar uma andada por aí.
Nos encontramos no metrô, ponto fixo para nossos encontros.
Todos nós chegamos atrasados, é claro. Não por que o ônibus atrasou ou a hora foi perdida.
Sabíamos que um de nós chegaria atrasado, então, pra que ficar esperando?
Ninguém gosta de esperar. Bom, o importante é que estávamos todos lá. Todos os cinco.
Não tínhamos nem ideia para onde iríamos, ou seja, começamos a discutir ali mesmo, no metrô.
Chegamos a conclusão que éramos muito velhos para virar a noite na Augusta e que nosso bolsos estavam muito vazios para algum lugar chique.
Foi aí que surgiu o lugar. Uma lanchonete de bairro, perto da casa do Teo.
Era nova e tinha uma decoração anos 80 'american style'. Era o melhor que tínhamos.
Era o melhor que podíamos pagar. E ainda iríamos ganhar lembranças de uma década de ouro.
Ao chegarmos lá, fiquei perplexo. Olhei para dentro da lanchonete e vi uma garota sorrindo. Ela era perfeita.
Quando entramos, escolhemos uma mesa e nos sentamos.
Quando percebi, a garota estava do lado de nossa mesa segurando o cardápio. 'O que vão beber garotos?'
Admito. Não consegui falar. Soltei, na verdade, uns grunhidos, que meu amigo, generosamente, traduziu para '5 cervejas, por favor'.
Ela deve ter me achado um babaca. Ou um retardado. Normal.
As cervejas chegaram em um balde. Trincando. Ela trouxe-as sorrindo. Sempre sorrindo.
Eu tentei agradecer, mas as palavras não saíram. Então eu bebi.
Bebi a noite toda. Eu ri como nunca tinha rido antes. Eu chorava. E toda vez que eu olhava, ela estava lá.
Sorrindo. Tentei falar com ela umas três vezes em quanto estava lá.
Mas só consegui pedir mais cerveja, que já foi um avanço. Na última pedi a conta.
Quando ela chegou, eu olhei em seus olhos. Tinha os olhos castanhos bem claros.
Seus cabelos eram castanhos avermelhados. Seu rosto pálido e cheio de sardas.
Seu sorriso. Ao ver a combinação de tudo, a perfeição de uma vida, um anjo na Terra... Eu só consegui dizer 'Débito'.
Pagamos a conta. Ela dizia 'Volte sempre!' com um sorriso no rosto. 
Fui pra minha casa e nunca mais voltei lá.

O Passado Passou

Hoje o passado passou por mim e não me reconheceu.
Acordei meio tonto, como sempre. Minha cara era a denúncia de uma noite com poucas lembranças.
Era tarde. Mas eu havia acabado de acordar, ou seja, precisava de um café.
Sempre tive problemas com minha cafeteira, ela nunca funciona quando eu mais preciso dela.
Acontece. Tomei duas aspirinas e voltei a dormir.
Acordei já era noite.
Precisava de comida.
Aquela vida estava me matando já. Precisava tomar um jeito.
Sai para comprar algo. Resolvi ir a um desses "hipermegablaster" mercados que tem por aí.
A variedade de coisas que encontramos neles é absurda.
Comecei a andar pelos corredores infinitos com um carrinho. Que carrinho barulhento. Minha cabeça doía.
Peguei uns pães, alguns frios. Olhei para a cerveja. Pensei, "Não faça isso com você mesmo, Chico".
O que era pior? Cogitar pegar um pacote de cerveja ou conversar com você mesmo usando um diminutivo de seu nome?
Por via das dúvidas, fiquei com pacote de cerveja.
Estava finalmente na fila do caixa. Aquelas filas de vinte volumes no máximo que tem aquelas telinhas pra você ir pro caixa certo, sabe?
E que fila.
Eu só tinha, basicamente, três produtos no meu carrinho: Pão, Frios e Cerveja. Por qual motivo, eu tinha que pegar essa fila absurda?
Bom, o motivo veio de supetão.
Lá estava ela. Seus cabelos negros, sua pele morena. Sua risada alta e doce.
Não acreditava no que estava vendo.
Era, com certeza, a mulher no qual um dia eu já fui apaixonado.
Ela estava grudada com um hipster de dreads que tinha o dobro do meu tamanho. Por Deus.
Eles riam e conversavam. Ela tinha um pote de sorvete de creme nas mãos.
Assim que eles se aproximavam, eu pensava no que dizer assim que nossos olhos viessem a se encontrar.
Com certeza ia ficar um clima estranho. Declarei meu amor doentio para ela em uma festa. Bêbado. Três anos atrás.
Desde então, eu nunca mais tinha a visto.
Já estava preparado, ia começar com um oi, seguido de um quanto tempo e quem sabe, dependendo da fila, perguntar como anda a vida.
Assim que se aproximava, ela olhou em meus olhos e passou.
Ela não me reconheceu. Não fez nenhum esforço mental. Nenhum lapso.
Concordo que eu tinha mudado, estava mais barbudo e mais acabado. Parecia que eu tinha trabalhado em uma construção pra ser mais exato.
Mas não me reconhecer? Eu que passei tantas noites em claro consolando ela, conversando e amando em segredo.
Como posso sobreviver sabendo que a pessoa que um dia foi minha amiga, a pessoa que um dia eu amei tanto, se...
O número na tela era um nove vermelho. Minha vez de passar minhas mercadorias.
Paguei meus três itens e fui embora fazer meu café da manhã às sete horas da noite.

domingo, 15 de junho de 2014

A Padoca

Foi engraçado. Estranho, mas engraçado.
O dono da padoca riu. Chamou sua neta e disse para trazer mais pães. Sempre que olhava pra mim, ele ria. Qual o problema?
Sim, eu estava com uma camiseta escrita "E até quem me vê lendo o jornal na fila do pão, sabe que eu te encontrei". Sim, tinha um "hermano" estampado. Sim, eu estava com um jornal na mão.
Mas e daí? Será que ele conhecia a música? Ou será que ele achou tal coincidência engraçada?
Bom, engraçada de alguma forma foi. Para ele é claro.
Mas o que me assustou foi a sua neta, sim, sua neta.
Seu João da padoca, ou "O Portuga", tinha claros traços, digamos, fortes em sua aparência.
Mas ela não.
Ah. A neta d'O Portuga. Que bela. Tão delicada.
E eu ali. Com a camiseta de ontem e o sono de anteontem. Só precisava de um copo de café e um pão com manteiga, pois sabia que não seria capaz de reproduzir tais elementos em minha casa.
Talvez meu estado tenha influenciado na percepção daquela garota. Quem sabe. Ou talvez ela seja bela assim.
O que importa é que eu comi meu pão na chapa, tomei meu café. Cheguei em casa e dormi.
Até que os dias em claros passados tivessem se esquecido por completo.
Até que aquela situação tenha se confundido com meus sonhos.
Até que eu consiga levantar e fazer meu próprio café.

Canção da Madrugada

Não era difícil de entender. Eu ainda era apaixonada por ela naquela época. Mesmo com tudo que aconteceu, mesmo que ela tenha quebrado minha louça, o vidro do meu carro e meu coração; ela era meu tudo.

Era o que eu tentava explicar para o Maurício. Um amigo, Maurício era daqueles que sempre podia chamar, se o lugar tivesse cerveja. Como um psicólogo, mas ao invés de pagar com ajuda do convenio médico, ou gastar uma boa grana por horas que duram 50 minutos cada, você o pagava com cerveja. É claro que os conselhos não eram bons, mas pelo menos ele te ouvia, até que a cerveja durasse, balançava a cabeça e dizia "é isso aê". Não era a melhor companhia, mas era o que eu tinha para o momento.

Eu contava o que tinha acontecido e ele tomava mais um gole de sua cerveja. Eu não parava de ordenar mais rodadas, minha história era longa. Ele prestava atenção em cada detalhe, as vezes fazia algum comentário inútil, ou até mesmo, uma piada de duplo sentido.  Me lembro bem, o bar já estava vazio e o garçom levantava as cadeiras. Meu relógio marcava quatro e meia da manhã. Mauricio terminou seu copo. Olhou pro lado. Voltou sua atenção a mim. Ele começou a falar "Chega cara, nenhuma cerveja do mundo paga tanta reclamação. Eu fiquei aqui por mais de seis horas ouvindo você falar daquela garota. Você ficou um mês com ela cara. Um mês! Acorda! Ela é louca e você é um insano por ainda gostar dela. Sem falar que foi você, você, que terminou com ela. Se toca rapaz!" Eu estava impressionando com o discurso de Mauricio. Em todos os anos em que eu conhecia o cara, ele nunca tinha demonstrado esse acesso de raiva, nunca tinha dito o que realmente achava.
É o que dizem, todo homem tem seu limite. O de Mauricio era grande, mas nem mesmo cerveja de graça podia faze-lo aguentar tanta reclamação.

Ele se levantou e foi embora me xingando. Tinha tirado o cara do sério.
Paguei a conta e fui andando para casa. Perdi mais um amigo com toda minha lamentação. Depois da terceira vez, você começa a perceber que o errado é você.
Apenas espero que Mauricio esqueça disso no outro dia, depois de tanta cerveja ingerida. Ainda tinha muito a lamentar.

sábado, 14 de junho de 2014

A Última Noite

Então, me conte sobre você.

E ela começou a falar. Lembro que era um sábado a noite. Estávamos em um desses mini restaurante francês. Comidas que não tinha nem ideia como pronunciar e regados a vinho. 
Eu a tinha conhecido a algumas semanas atrás. Era uma garota bacana, simpática e muito inteligente. Bonita. Ela me conquistou quando disse que adorava Bandeira e Pessoa; e parece que eu a conquistei quando disse que era escritor, ou pelo menos tentava ser. 
Ela falava do emprego dela como veterinária. Eu apenas ouvia suas histórias. Ria. Ela era engraçada, gesticulava bastante. Provavelmente era o vinho, ele fazia essas coisas com todo mundo. Ela me contava sobre sua paixão pelos animais, mas eu só conseguia pensar como eu odiava gatos naquele momento. Ela me mostrava a tatuagem de um pássaro que ela tinha. Estava indo tudo muito bem, até que ela parou. Eu ainda olhava para ela. Bebeu um gole de sua taça. Seus lábios estavam pintados de vermelho. Seus olhos tinham a cor de toda a beleza que eu nunca tinha visto antes. Ela voltou a falar, mas dessa vez perguntou sobre mim. Ela queria me conhecer. Isso era complicado. Como dizer a ela que eu era um falso escritor, que na verdade ganhava dinheiro com outras atividades administrativas? Nunca tinha vendido um livro que seja, mas vendi minha imagem de escritor a ela. Um pseudointelectual. Ela me contou histórias incríveis; já eu não tinha nada. A não ser que ela queira saber da minha discussão com meu vizinho de porta sobre os roubos de jornal e de sinal de internet. Eu realmente achei que ela não queria ouvir sobre isso. Então eu fiz o que qualquer homem na minha posição faria. Eu menti.
Contei as histórias mais fascinantes a ela. Disse que já atravessei a fronteira do Paraguai em um dia de bebedeira com os amigos. Minhas discussões com editoras e como elas eram totalmente vendidas e não entendiam o real significado da literatura contemporânea. Meu breve emprego como investidor da bolsa de valores e como eu evitei que várias pessoas falissem  na crise de 2008. Eu contei tudo que ouvi, que criei e que não existia. Agora era eu que gesticulava. Provavelmente o vinho.
Indiretamente eu contei a ela o que eu mais amava. Criar histórias. Mesmo que não contendo total veracidade nos fatos discorridos. Eu tinha criado um personagem incrível; e com toda certeza, ele tinha conquistado a garota com tanta beleza.
Eu paguei a conta quando nosso vinho chegou ao fim. Pegamos um taxi e paramos na casa dela. Ela tinha um gato. Eu odeio gatos, mas ele não podia me afetar ali, não meu personagem.
Depois que fui embora, nós nunca mais nos falamos. Talvez o fato de eu ter criado todo um roteiro para poder contracenar com ela tenha me deixado pouco atraído por sua conversa, seus lábios, seus olhos; talvez eu não saiba o que tenha feito, tenha agido como um babaca por nunca mais falar com ela e seja tarde de mais para voltar atrás com esse erro; ou talvez eu realmente não goste de gatos.

sexta-feira, 13 de junho de 2014

Sobre Escrever

Quando olhei no relógio, ele marcava duas da manhã. O sono não vinha.
Me levantei, peguei algumas tralhas que estavam em cima da mesa. Saí.
Estava frio. Deveria ter pego uma blusa.
Parei no primeiro bar e sentei na primeira mesa que avistei.
A sina do escritor.
Tinha papel e caneta. Agora um whiskey também.
Eu realmente não sei o porquê escrevo, como também não sei o motivo de beber. Sei que os dois se completam pra mim.
Escrever se tornou algo que alimenta meu ser, quando nada mais me cativava. Não havia mais luz. E mesmo sem conseguir escrever coisas alegres, eu fiquei mais alegre.
Mas já são três da manhã. O garçom resmunga algo sobre o gol de alguém.
Não tenho nada escrito no meu papel.
Me perdi pensando no que eu seria hoje, se eu tivesse pego um rumo diferente.
Mais feliz? Mais sonhador? Um romântico incorrigível?
Gosto de pensar que seria um cabeça-oca. Não teria encontrado a literatura que eu encontrei e talvez não tivesse me aprofundado no meu ser.
Teria sido mais um.
Chega.

Na mesa um copo vazio, notas de dez reais e uma papel escrito:

"Hoje eu me dei conta, que tudo que eu mais valorizo na vida hoje, é por sua causa. Sua vaca sem coração."


Sempre escrevi minhas verdades.
Estava na hora de dormir, o sol já ia raiar.
A qualquer momento, não teria mais aquelas estrelas.
Já estava acostumado. Todas as manhãs elas iam embora, mas todas as noites elas voltavam.
O que eu nunca sabia é se eu iria voltar.

quinta-feira, 12 de junho de 2014

No Lusco-Fusco

Era o que eu não queria. Voltar a escrever. Pior, escrever sobre você ao lusco-fusco. Tinha feitos planos, traçado metas.
Eu poderia escrever meus livros. Mas você não me sai da cabeça, então sou obrigado a transforma-la em literatura.
Como já fiz tantas vezes.

Cheguei ao fundo tantas vezes, que já sou conhecido dos que aqui habitam. O olhar no espelho, a madrugada que não termina. O celular que não toca e o copo que nunca esta vazio. Não me deixe chegar nessa combinação, não me deixe olhar pro espelho de novo, sozinho não.
Me sinto obrigado a ir embora. Deixar essa gritaria, essa festança. Me sinto na obrigação de achar alguém que se importe.

Mas ninguém se importa.

No escuro da memória, sua lembrança sempre me foi o lusco-fusco que me salvava. Nunca entendi como um dia poderia esquecer seu sorriso. Como um dia achar aquela foto faria anoitecer tão rápido pra mim.

Acho que perdi a calma.
Me perdoem aqueles que achavam que eu a tinha encontrado, pois eu também achava.
Quero descobrir se minha noite uma hora vai virar dia.
Mas quem sabe meu dia que virou noite.

O lusco-fusco pode cegar.