segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Não Se Atrase

Ainda não inventaram uma fórmula mágica para leituras de mentes. Ainda mais a distância.
Mas se existisse, eu não pensaria duas vezes e usaria em você.
Quero saber tudo que pensas, a cada instante. Quero saber se pensa em mim, ou se ao menos se lembra de mim, mas pelo nome, e não "aquele-cara-lá".
Talvez saber o que você pensa a todo instante seja um pouco obsessivo, tipo o Sting em Every Breath You Take. Eu só quero saber se você quer saber de mim.
Mas é só conversar!
Não. Não é tão simples.
Eu quero saber sem ter que me arriscar ao ridículo. Eu já sou tachado de louco, imagina se eu incentivasse essa Síndrome de Carroll(Creio que essa síndrome nem exista, mas não quero ser o cara que confirmou sua existência).
Já enchi esse texto de asneiras de todos os generos, não queria que ele fosse assim. Mas fiquei desnorteado a maior parte do tempo esperando mais uma selfie sua. Mais uma citação musical, apostando comigo mesmo "Agora vai ser Gadu ou Mallu. Mas pode ser Cícero também..."
Eu te espero escrevendo esse texto.
Mas sempre que você chega, eu desisto.
Uma hora vai ser tarde. Como sempre acontece.
Estou sempre atrasado, mesmo comigo no devido lugar.
Preciso acertar meu relógio.
Rápido.

domingo, 28 de dezembro de 2014

House

Estou novamente assistindo House M.D.
Da primeira vez que vi a série, eu quis ser como Gregory House, sem tirar nem por nada. Eu queria sua arrogância, sua inteligência, seu humor ácido, o desequilíbrio emocional ressaltando suas altas manifestações de sociopatia; e principalmente sua perna manca, que aliás, vem acompanhada de doses cavalares de Vicodins.
Passou o tempo e eu adquiri algumas coisas. Humor ácido e seu desequilíbrio emocional confirmados. Inteligência não a seu nível, mas creio que consiga resolver alguns "puzzles" da minha área. Alguns dizem que desenvolvi uma arrogância que não existia em mim. Não sei.
O que me falta? Sociopatia e uma perna manca? Sou introvertido, isso não basta? Não. Ou melhor, não é só isso que falta. Me falta a indiferença, o sadismo, o prazer em desvendar mistérios. Me falta não ter sentimentos. Pelo menos não transbordando por toda parte. Nenhum seria melhor.
Meu sonho era ser essa casca de ser humano rancorosa, sociopata, vingativa e genial.
Era meu sonho. Até eu assistir novamente e perceber que eu não queria ser exatamente o House. Eu queria ser o oposto do Wilson.
James Wilson. O oncologista. O amável, bonzinho, sentimental e o único amigo do intragável House.
Percebi que tudo que eu gostava no House, era o que eu odiava em mim. Odiava no Wilson.
Quando eu vejo Wilson segurando a mão de seus pacientes terminais, sentindo suas dores na hora de dar a sentença no final. O fato de guardar todas as coisas ganhas somente para recordação. Sempre se importar com os outros, colocando muitas vezes o bem estar dos outros acima do seu.
Como eu te odeio James Wilson.
Você tem medo de manipular seus pacientes e familiares, mesmo tendo total controle sobre eles. Covarde, diria House.
Você é patético por se importar com tudo e com todos. Eu diria.
Eu queria ser House, pois estava cansado de ser Wilson.
Hoje, quando vejo cenas das conversas entre House e Wilson, me lembro de diversas conversas que tive com alguns amigos meus. Nenhum deles eram O House, mas alguns se aproximavam. Bastante. Consigo ver que os dois eram sozinhos, cada um de seu jeito.
Está na hora de me livrar desse fardo House e Wilson. Encontrar uma saída minha, de preferência mantendo as coisas boas do Wilson.

Enquanto eu termino isso, Adriana Calcanhotto canta "Esquadros" no meu rádio.

"Eu ando pelo mundo
E meus amigos, cadê?
Minha alegria, meu cansaço
Meu amor cadê você?
Eu acordei
Não tem ninguém ao lado"

Que conveniente.

quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

Real

Estava jogado novamente no chão de meu apartamento. Não tinha recordações o suficiente para descrever o motivo de meu corpo estar estirado ali, nem o local em que eu estava e nem com quem eu estava.
Meu apartamento era um breu. Sentia o frio passar por alguma janela aberta e sem poder fazer nada para mudar minha situação, lá fiquei.

- Querido, o que aconteceu com você?

Senti um abraço tão caloroso que me aqueceu daquele frio que eu sentia. Não conseguia responder suas perguntas, muito menos suas carícias.

- Está tudo bem agora. Eu estou aqui.

Estava tudo bem, ela estava comigo. Ela estava ali por mim até nesses momentos mais dolorosos e incapazes da minha vida. Eu podia senti-la como nunca. Seu amor, sua cautela, minha felicidade por tê-la ali. Por sua visão, provavelmente eu era um moribundo, mas mesmo assim, ela permanecia ao meu lado. Mas por que?
Senti um aperto em meu peito. Uma angústia que nunca havia sentido antes dominou meu ser. Eu quis gritar de medo, mas antes que eu pudesse fazer qualquer coisa, lágrimas começaram a rolar sem minha permissão. Elas escorriam pelo meu rosto e repousavam nos ombros dela.

- Não chore meu querido. Eu estou aqui. Somente eu e você.

Ela sentou-se ao meu lado e me aninhou em seu peito. Com uma das mãos ela acariciava minha cabeça, com a outra segurava com toda força do mundo minha mão. Eu não a merecia. Eu chorava e mesmo sem saber o porquê, ela continuava ao meu lado. Ela era minha rocha e só de pensar nisso as lágrimas escorriam mais e mais. Ela cantarolava musicas antigas para me acalmar, as vezes canções de ninar, as vezes Tom Jobim.  
Em algum ponto, entre lágrimas e músicas, caricias e apagões, eu reuni um pouco das minhas forças. Precisava contar de meus medos. O porquê de minha fraqueza. Ao sinal da primeira silaba sair de minha boca, ela me interrompeu imediatamente.

- Não precisa dizer nada querido. Palavras  só irão estragar este momento. Estragar sua cura.

Seus olhos eram sinceros, mas eu simplesmente não podia ser tão fraco. Eu não era fraco daquele jeito. Ela me amava acima de tudo, eu podia sentir. Ela merecia minhas explicações. Então sem hesitar, joguei minhas palavras mais sinceras. O que eu mais tive medo de admitir, aquilo que eu nunca achava palavras para me expressar. "Eu vi minha vida sem você querida. E eu tive medo pela primeira vez. Me perdi sem saber como continuar sem você, o que eu era sem você. Eu jurava que eu não ia aguentar mais uma hora que fosse sem você, simplesmente uma vida sem teu amor não é possível. Foi tão real e tão doloroso que sinto a magoa e aflição até hoje. Por favor, não me deixe querida. Me abrace até o fim."
Seus olhos encheram se lágrimas e suas mãos tremiam. Ela continuava a me olhar, até que beijou minha testa e me abraçou mais forte , cantou mais alto e mais do que nunca. Quando a melodia havia chegado ao seu fim e meus olhos já quase não ficava mais abertos ela sussurrou quase pra si mesma.

- Eu pedi para que não dissesse nada querido. Agora tudo é real.

Ela foi embora sem que eu percebesse. O breu no meu apartamento continuou e ficava cada vez mais frio. Aos poucos, eu ia me esquecendo dela, mesmo que eu não quisesse. Simplesmente, já não lembrava mais do seu rosto ao acordar.

Platônico

"Não dá. Isso que a gente tem é amor platônico."

Foi a última coisa que ela me falou antes de levantar da mesa, sair pela porta da cafeteria e nunca mais dar notícias.
Passei muitos anos tentando entender o que foi aquilo. Um dia era paixão, no outro platônico.
Aliás, platônico?
Anos mais tarde fui descobrir o significado de amor platônico. Aposto que nem ela sabia. Viu que tinha amor no meio e usou pra não me magoar. Mas dizer que nosso amor só existe no plano espiritual é gozação. Que nunca houve interesse carnal ou material?
Hoje eu não diria platônico, querida.
Eu diria amor veneno, por ter me esquentado, queimado, doido de diversas formas. As vezes me tirando da realidade, as vezes me transformando em um pedinte de ar.
Doía tanto, que esse amor se transformava em algo tangível, que no ato de apertar o peito, era como se ele fosso concreto, massivo, como um tumor maligno no meu coração prestes a desencadear uma metástase.
Mas ao mesmo tempo, ele era um amor ópio, que me relaxava, fazendo esquecer minhas dores e meus problemas. Como se tudo fosse perfeito e a humanidade abençoada. Mas como no ópio, era tudo ilusão. No final as dores voltariam, com efeitos colaterais adicionais: falta de ar, tontura, ansiedade, apatia e deterioração intelectual.
Platônico? Só pode existir um amor platônico se os dois se sentirem da mesma forma, caso contrário, toda a filosofia por trás do platônico é quebrada.
Mas eu não sabia. Deixei estar. Baixei minha cabeça e aceitei o fardo de carregar um amor platônico pelo resto da minha vida. Porém, se naquela época você me dissesse que não dava por ser um amor socrático, eu compraria da mesma forma. Amor cego. Burro.
Hoje, de tudo que nosso amor foi, e de tudo que ele poderia ter sido, o mais perto que ele poderia ser denominado seria amor monolítico-egoísta. Um só ama.

O outro espera uma desculpa pra ir embora.

sábado, 20 de dezembro de 2014

Monique

Monique tinha vivido eternamente a mercê das vontades de seus namorados.
Tinha parado de beber, parado de fumar. Voltado a fumar. Parado de fumar e voltado a beber. Voltou a fumar e beber.
Suas fases dependiam de seus namorados, de seus amores, suas paixões, suas vidas eternas em quanto durasse.
Monique perdeu diversas vezes os amores de sua vida, chorou, morreu, bebeu, sorriu e encontrou outro amor. E repetiu o ciclo.
Ela era daquelas que faziam de tudo para deixar um homem feliz, até assistia futebol! Aliás, seu time do coração era o time do coração do homem do seu coração. Do momento.
Até que uma hora, Monique cansou disso tudo. Cansou de se perder em amores eternos que duram dois meses. Cansou de ter mais camisas de diversos times de futebol em seu armário do que sapatos. Ou até mesmo livros. Monique adorava ler. Mas só lia se seu amor necessitasse de alguém que lesse. Caso contrário, bebia. Ou fumava.
Mas Monique disse chega. Chega! Disse Monique. Mas após Monique dizer chega, ela conheceu Martinho.
Monique percebeu na hora que Martinho era tudo o que ela precisava, pelo menos por hora.
Os dois começaram a sair e Monique se dedicou pra fazer dar certo. Monique poderia ganhar o Nobel da Melhor Namorada. Mas Martinho não queria saber de namorar. Ele queria festa, bebida e curtição. E por consequência, era isso que Monique queria. Mas, Monique queria curtir a vida agora. Adeus Martinho, vou curtir.
Não entendendo nada, Martinho implorou sua volta, chorou e ajoelhou. Monique sentiu seu poder, mas por Martinho já não sentia mais nada.
Qualquer dia a gente se esbarra por aí.
Monique foi embora.
Martinho ficou.
Monique foi feliz descobrindo como realmente era. Gostava de beber, mas não de fumar. Odiava futebol. Amava ler. E o mais importante, não queria ninguém, queria apenas ela mesma, pelo menos naquele momento.
Martinho se tornou dependente de suas namoradas futuras, amando mais que tudo e vivendo eternamente a mercê das vontades delas.

domingo, 19 de outubro de 2014

Carta

Nunca escrevi uma carta na minha vida. Pelo menos, não que eu me lembre.
Por isso escrevo esta, sem saber o que dizer, sem nem ao menos entender o que estou fazendo ao certo. Apenas sei que preciso escreve-la.
Como começar? Olá, como vai? Aqui vai tudo bem.
Não, você sabe que eu sempre fui muito direto e realmente, eu não quero me demorar a escrever isto aqui. Na verdade, não vejo a hora de terminar e poder ter uma noite tranquila de sono.
Eu estive na merda, por muito tempo. Mas de uns meses pra cá me encontrei feliz, cantarolando sem motivos aparentes. Era eu novamente. Fazia tempo que não encontrava esse cara andando por ai dando a cara a tapa e cantando Timbalada. Não me julgue, você conhece meu gosto musical, mas se conhecesse Timbalada entenderia como eles tem o dom de grudar na cabeça.
Voltando, eu estava bem, até que me citaram seu nome.
Seu nome realmente não importava, mas me atualizaram sobre você. E eu, fui cínico e sádico como só eu consigo ser. Debochei e revirei os olhos.
"Não me importo"
Mas você sempre me apunhala. E eu não sei o que é pior, realmente desejar sua partida, ou me deixar afetar de novo só por sua memória.
Meus pensamentos me tornam vil, de uma forma que não consigo lidar.
Sou sujo, baixo e infame. Meus amigos me olham e não me reconhecem. "Esse não é você", eles dizem. Mas sou.
E o golpe de misericórdia sempre vem, ao lembrar de que você se apoia em quem eu já me apoiei.
Você acaba comigo, me detona, me fode. Mesmo sem saber.
Eu vou me remoendo.
Por hoje chega? Ou só por hoje?
Vou por um fim em tudo que me faz recordar. Chega de você.
Essa carta não tem destino.
Sem endereço e sem número. Quero ela perdida por aí.
Ela não vem assinada e muito menos tem despedidas amigáveis.
Por favor, apenas vá.

sexta-feira, 25 de julho de 2014

Eu Queria Ir Embora - Crônicas Quaisquer



Eu queria ir embora.
Já tinha perdido as contas de quantas vezes tinha feito minhas malas e sempre encarava aquele velho bilhete que eu sempre queria deixar para Claudia.

“Não aguento mais. Estou indo embora.”

Mesmo que seja uma linha, escrever essas palavras não era tão fácil quanto eu imaginava. As malas poderiam estar prontas, mas eu não poderia simplesmente deixa-la, não desse modo. Não depois de tudo que passamos juntos, de todas as brigas e nossas idas e vindas. Eu a amava, só não aguentava mais.
Não aguentava mais acordar todo dia e vê-la do meu lado. Não suportava mais sua risada, muito menos quando bebia. Aliás, ela bebia de mais. Nós bebíamos de mais.
Novamente eu me via sentado na cadeira da cozinha com aquele papel e aquela caneta. Minhas malas no canto e o relógio marcando três horas da manhã. Eu bebericava meu café e olhava para aquela folha em branco e tentava entender como eu tinha ido parar ali, mais de uma vez, como eu tinha deixado de atura-la. Como eu não me aturava mais, aquela pessoa que eu era quando ela estava por perto. Sentia novamente que eu não tinha escolhas, tinha chegado ao limite com ela.
Levantei da minha cadeira e fui até o armário de cima da cozinha. Era lá que Claudia deixava suas bebidas. Encontrei uma garrafa de whiskey pela metade. Não era dos melhores, mas iria me ajudar naquele momento de indecisão. Abri a garrafa e completei minha xícara de café. Aquilo me deu a coragem que eu precisava para fugir. Deixa-la para trás e tentar ser feliz de novo. Escrevi naquele papel o que sempre desejei, o que sempre tentei escrever. Quando coloquei o ultimo ponto na folha e li aquela minha despedida, ainda não achava digno para uma mulher que eu tanto amei, mas tinha que bastar. Não suportava mais aquele apartamento nem mais um segundo.
Ouvia o colchão fazer seus barulhos com suas molas velhas. Passos em direção da cozinha, Claudia estava ao lado da porta e me olhava com seus olhos serenos e cansados. Suas olheiras estavam mais profundas do que nunca. Sem dizer uma palavra, ela foi até a pia, pegou um copo e logo em seguida encheu-o com o whiskey que estava em cima da mesa. Sentou ao meu lado e começou a bebê-lo. Depois de alguns minutos me encarando, me vendo naquele estado deplorável, com uma mala no chão e um café batizado de whiskey, ela parecia ter perdido seu sono completamente. Mas não precisei mais me agonizar para saber o que pensava.

— Vai me deixar novamente? — Ela tinha uma expressão séria no rosto. Seus olhos não paravam de me fitar. Não havia ódio naqueles olhos verdes, estavam mais parecidos com olhos de piedade.

— Claudia, eu não consigo mais. Não posso mais viver assim, essa mentira que você inventou, como se nunca brigássemos, como se você nunca tivesse tentando me matar. — Eu não conseguia encara-la. Era muito dolorido para mim. Terminei meu café e me servi com uma boa dose de whiskey.

— É sempre a mesma coisa. Você cansa de mim, me destrói por dentro. E quando eu estou quase recuperada você volta e diz que está arrependido. E sabe o que é pior? Eu te aceito de volta. — Tinha um sorriso sereno no rosto. Seu copo já estava vazio. Claudia se levantou e me abraçou. — Eu te amo. Eu nunca vou te deixar partir. Nunca.

Em um reflexo amedrontado de meu ser, escapei de seu abraço tão bruscamente que derrubei a cadeira em que estava sentando. Não queria mais vê-la.

— Você é louca Claudia. Eu nunca te deixei sozinha, eu nunca deixei de te amar. Eu sou seu prisioneiro aqui, lembra? Você não sai de casa, você não conversa comigo por dias e bebe até esquecer quem eu sou. Você inventa mentiras de como somos felizes para ignorar o que você mesma faz. — Peguei minha mala que estava no chão. Queria dar um ultimo beijo nela, mas tinha medo do que ela faria para me manter ali em seu cativeiro.

— Então acabou tudo? — Havia lágrimas nos olhos de Claudia. Seu sorriso tinha sumido de seu rosto. Parecia perplexa com a notícia. Parecia que tinha atirado em seu coração. A última coisa que eu desejava fazer com ela era machucá-la.

—Eu te amo Claudia. Só não quero te ver. Nunca mais. — Fui em direção da porta. Ela não me impediu. Girei a maçaneta e a abri. Assim que fechei a porta após ter saído daquele local ouvi-a chorar. Dei mais três passos e ouvi algo quebrando e a porta estremecendo. Provavelmente aquela garrafa de whiskey. Ela iria se arrepender depois.

Finalmente cheguei à rua. Estava frio como nunca, tanto, que assoprava as mãos em busca de calor. Peguei um cigarro em meu bolso e o acendi. Assoprei aquela maldita fumaça para cima enquanto olhava para a lua. Voltei a andar em busca de uma nova vida. Uma nova cidade. Nunca mais falei com Claudia. Mas recebi uma noticia de que havia falecido alguns meses depois que eu parti. Aparentemente esqueceu o gás ligado e quando acendeu a luz, explodiu o andar inteiro. Além de acabar com a minha vida, acabou com a de nossos vizinhos também. Não guardei magoas e nem as lembranças ruins de Claudia, na verdade, não lembro direito de como ela era, nem do sou sorriso e muito menos da sua risada. A única coisa que guardo, foi que um dia eu amei alguém muito mais do que amei a mim mesmo. Sempre amarei Claudia, mas nunca sentirei saudade.

segunda-feira, 7 de julho de 2014

Seja Incrível

Acorda-te de um mundo sem vida. Apenas o vazio existe. O caos tortura a mente que tortura o corpo; não gosta de sofrer sozinho, aliás.
Acorda-te. Mas dessa vez abra os olhos. O suor que escorre no rosto e o sol que cega os olhos.
Coça a barba e te espreguiça. Suspira, pois vem mais um dia.
Se prepare e se vista. Aquele terno, aquela gravata, aquele sapato.
Melhor.
Se vista com aquele seu ar "incrível". Que tal? Um pouco de "invencibilidade" nunca faz mal.
Não se esqueça do perfume. Adiciona um não-sei-o-quê.
Vá em direção ao seu dever e não pare.
As pessoas te admiram, sempre tens um sorriso no rosto.
Trabalhe como se não houvesse amanhã. É o que te resta.
Não sejas reconhecido e pegue chuva.
Ande a maior parte do caminho, até achar um lugar para poder sacar o dinheiro da condução. Esteja encharcado.
O perfume continua de leve no terno. A "invencibilidade" já se foi.
Um senhora com dificuldades de andar e uma subida. A chuva.
A consciência pesa.

- Senhora, precisa de ajuda?

Acompanhe-a até sua casa, desviando de sua rota. Ela te agradece e vai embora.
Volte uma boa parte do caminho.
Estaria próximo, se não avistasse uma pequena bomboniere.
Entre e compre seu chocolate favorito. E o segundo. E o terceiro.
Chegue em casa. Não esqueça de trancar a porta.
O perfume já não é mais sentido. Mas seu ar continua "incrível".
Coma seu chocolate.
Dizem que o universo sempre retribui boas ações.
Universo, a divida já ta paga.
Esse chocolate estava delicioso.


Pode ser um pouco solitário. Pode doer muito e machucar e te deixar pra baixo sem nenhuma perspectiva de vida com muitas palavras dolorosas que não seria válido escreve-las aqui.
Só tente ser "incrível", que as coisas aos poucos vão se tornado incríveis por si só.
Por menores que essas coisas sejam.

terça-feira, 24 de junho de 2014

Muitas Horas Nessa Calma

Hoje tudo que eu quero é minha calma de volta.
Sinto como se ela tivesse sido roubada nesses últimos dias.
Perdi a cabeça e a insanidade tomou conta de mim nesse tempo. Eu preciso de minha calma.
Não sei quem sou sem ela. Fico entre o que fui e o que não fiz, o não ser e o incrível. Não sou.
Mas seu eu tivesse minha calma de volta, teria tudo e mais um pouco. Teria minha confiança e minha paz. Teria, quem sabe, você.
Mas teria o que preciso pra sobreviver.
Me tire tudo, só não tire minha calma. Aquela calma que surge nos momentos mais intensos e complicados. Que ameniza minhas dores.
Aquela calma que eu tive que achar, bem no fundo de mim no momento mais difícil que já tive.
Então eu suplico, não tire minha calma. Não peço nem uma dose. Apenas minha calma.
E se for possível, adicione muitas horas nessa calma.
Vou precisar.

sexta-feira, 20 de junho de 2014

Meu Sonho

Hoje eu não queria levantar. Assim que eu colocasse meus pés no chão, minha vida não seria mais a mesma. Seria real, eu não teria mais você.
Como explicar em poucas palavras minha vida sem você?
Caos?
Tive que levantar. Você já tinha ido há anos, mas eu insistia em repetir aquela noite em que tudo aconteceu. Tentava mudar minhas palavras, meus atos, meu amor. Nada adiantava, sempre acaba tudo igual. Sempre acabava sem você.
Levantei. Minha janela estava aberta e o inverno cortava meu rosto. Queria sentir frio, pois assim sabia que ainda estava vivo, sabia que estava acordado. Em meio a tantas tentativas de mudar, meus sonhos se misturaram com o real. Precisava de um norte. Não tinha para onde fugir, aquela era minha realidade, era onde eu deveria estar.
Mas eu não queria.
Eu queria você minha amada, seu abraço acolhedor. Seu sorriso reconfortante. Eu precisava fazer algo.

O frio estava mais forte eu meu rosto. Eu precisava de você, mais do que a Primavera necessitava desse Inverno que assolava minhas noites.
Eu precisava de um sonho onde você nunca partisse.
Um sonho eterno.

quinta-feira, 19 de junho de 2014

Aquela Música

Tem dias que a vontade é apenas essa. Ficar o dia inteiro parado. Deitado de preferência.
Tomando uma Bud. Não posso pedir mais que isso, então tá bom.
Mas às vezes, mesmo com esse dia "perfeito", sinto um tédio monumental.
O que fazer pra afastar esse tédio ridículo? Ainda não descobri, mas estou fazendo diversas tentativas.
Em um desses tédios momentâneos de minha vida, resolvi escutar algumas músicas, e tinha uma que não saia da minha cabeça.
O problema é que eu não sabia o nome da música, é claro.
Como qualquer pessoa normal, fui atrás da maldita música.
Eu tinha o ritmo, uma palavra e o gênero.
Mas, por incrível que pareça, se você colocar "tantantan tantantan father electro fucking house" o google não consegue encontrar.
Na minha fúria de ser incapaz de encontrar uma simples música na internet, fiz a coisa mais sensata da minha vida.
Entrei no facebook, abri a conversa com a Aninha, e falei "conhece uma música que tem o ritmo tantantan tantantan fala de father no meio e é de electro fucking house?".
O que ela me respondeu? "Don't You Worry Child, Chico?". Sim. Ela acertou a música.
Deixando de lado essa capacidade mítica de descobrir músicas da Aninha, fui ouvir a bendita música.
Veja, meu gosto musical não inclui o gênero da mesma procurada, mas por algum motivo minha alma pedia pra ouvi-la.
Bom, que merda poderia acontecer, né?
Coloquei o nome da música no youtube. Dei play. Tomei um gole da minha Bud.
Enquanto ela tocava, lembrei que tinha um pouco de amendoim no armário.
Resolvi pegá-lo. Assim que me sentei novamente na cama, foi que parei pra ouvir com atenção a música.
A se eu pudesse socar minha alma. Uma música que não é meu estilo, que tem um refrão que gruda, e até que tem um clipe bacaninha, não é pedido por seu subconsciente por acaso.
Primeiro "Child", seu coração foi partido? Acostume-se, sério! Conselho bacana do tio.
Segundo, a única coisa que faz planos pensando em você é a vida. E a vida só quer te foder.
Desculpa ser tão direto Chico, quer dizer, "Child"...
Tomei mais um gole da Bud e dei replay na música.

quarta-feira, 18 de junho de 2014

Mais Um Dia

No meio.
Lá estava eu. O elevador estava vazio. Como sempre. Ninguém acorda cedo nessa droga de prédio?
Olho para o espelho. Estranhamente, estava sem sono, apesar de ser seis horas da manhã.
Não tinha do que reclamar do meu emprego, apenas de ter que acordar cedo, é claro.
Ser professor tinha seus altos e baixos. Baixos eram os salários. Bem baixos, aliás. Altos? Bom...
Não vamos falar disso agora. O elevador descia e eu me olhava no espelho. Quando eu tinha tirado minha barba?
Estava tão ocupado entre dormir, beber e lecionar que nem me recordava de ter tirado a barba.
Mais um toque do sinal. Pra qual sala irei agora? Estava no meio do pátio.
Meus livros de matemática estavam em minhas mãos. Crianças gritavam e adolescentes riam.
Precisava descobrir a sala seguinte urgentemente. Se eu demorasse muito, a sala iria virar uma selva.
Crianças selvagens. Nem doces para acalma-las.
O elevador subia. Dessa vez eu não estava sozinho. Lá estava ela. Que mulher incrível.
Era linda. O amor da minha vida. Entrei e apertei o número sete. Ela se virou e me abraçou.
Disse que estava com saudades. Que me amava. Bom, se é assim, retribui o seu amor.
Estava no meu quarto. Com sono. A cama me chamava, mas não queria me deitar. Tinha que levantar cedo amanhã.
Tinha que encarar essa minha rotina louca.
Me deitei.
O despertador apita.
Passo a mão em meu rosto e minha barba está lá.
Era tudo um sonho? Realmente fazia meses que não sonhava.
Talvez eu tenha perdido a capacidade de separar sonhos de realidade.
Perdi o amor da minha vida e dessa vez eu nem sei por quê. Mas tudo bem.
Pelo menos eu não era um professor de matemática. Isso foi um grande alívio.

terça-feira, 17 de junho de 2014

Eu Deixei Assim

E foi assim. Do nada.
Queria sair de casa. Estava enfurnado no meu quarto a dias. Precisa de ar.
Foi aí que decidi fazer algumas ligações. E que decisão eu tomei.
Veja, chega uma hora em sua vida em que você percebe que todos os seus amigos estão casados ou namorando.
Menos você. Você é um bosta. Mas tudo bem, encontrei quatro bostas que nem eu para dar uma andada por aí.
Nos encontramos no metrô, ponto fixo para nossos encontros.
Todos nós chegamos atrasados, é claro. Não por que o ônibus atrasou ou a hora foi perdida.
Sabíamos que um de nós chegaria atrasado, então, pra que ficar esperando?
Ninguém gosta de esperar. Bom, o importante é que estávamos todos lá. Todos os cinco.
Não tínhamos nem ideia para onde iríamos, ou seja, começamos a discutir ali mesmo, no metrô.
Chegamos a conclusão que éramos muito velhos para virar a noite na Augusta e que nosso bolsos estavam muito vazios para algum lugar chique.
Foi aí que surgiu o lugar. Uma lanchonete de bairro, perto da casa do Teo.
Era nova e tinha uma decoração anos 80 'american style'. Era o melhor que tínhamos.
Era o melhor que podíamos pagar. E ainda iríamos ganhar lembranças de uma década de ouro.
Ao chegarmos lá, fiquei perplexo. Olhei para dentro da lanchonete e vi uma garota sorrindo. Ela era perfeita.
Quando entramos, escolhemos uma mesa e nos sentamos.
Quando percebi, a garota estava do lado de nossa mesa segurando o cardápio. 'O que vão beber garotos?'
Admito. Não consegui falar. Soltei, na verdade, uns grunhidos, que meu amigo, generosamente, traduziu para '5 cervejas, por favor'.
Ela deve ter me achado um babaca. Ou um retardado. Normal.
As cervejas chegaram em um balde. Trincando. Ela trouxe-as sorrindo. Sempre sorrindo.
Eu tentei agradecer, mas as palavras não saíram. Então eu bebi.
Bebi a noite toda. Eu ri como nunca tinha rido antes. Eu chorava. E toda vez que eu olhava, ela estava lá.
Sorrindo. Tentei falar com ela umas três vezes em quanto estava lá.
Mas só consegui pedir mais cerveja, que já foi um avanço. Na última pedi a conta.
Quando ela chegou, eu olhei em seus olhos. Tinha os olhos castanhos bem claros.
Seus cabelos eram castanhos avermelhados. Seu rosto pálido e cheio de sardas.
Seu sorriso. Ao ver a combinação de tudo, a perfeição de uma vida, um anjo na Terra... Eu só consegui dizer 'Débito'.
Pagamos a conta. Ela dizia 'Volte sempre!' com um sorriso no rosto. 
Fui pra minha casa e nunca mais voltei lá.

O Passado Passou

Hoje o passado passou por mim e não me reconheceu.
Acordei meio tonto, como sempre. Minha cara era a denúncia de uma noite com poucas lembranças.
Era tarde. Mas eu havia acabado de acordar, ou seja, precisava de um café.
Sempre tive problemas com minha cafeteira, ela nunca funciona quando eu mais preciso dela.
Acontece. Tomei duas aspirinas e voltei a dormir.
Acordei já era noite.
Precisava de comida.
Aquela vida estava me matando já. Precisava tomar um jeito.
Sai para comprar algo. Resolvi ir a um desses "hipermegablaster" mercados que tem por aí.
A variedade de coisas que encontramos neles é absurda.
Comecei a andar pelos corredores infinitos com um carrinho. Que carrinho barulhento. Minha cabeça doía.
Peguei uns pães, alguns frios. Olhei para a cerveja. Pensei, "Não faça isso com você mesmo, Chico".
O que era pior? Cogitar pegar um pacote de cerveja ou conversar com você mesmo usando um diminutivo de seu nome?
Por via das dúvidas, fiquei com pacote de cerveja.
Estava finalmente na fila do caixa. Aquelas filas de vinte volumes no máximo que tem aquelas telinhas pra você ir pro caixa certo, sabe?
E que fila.
Eu só tinha, basicamente, três produtos no meu carrinho: Pão, Frios e Cerveja. Por qual motivo, eu tinha que pegar essa fila absurda?
Bom, o motivo veio de supetão.
Lá estava ela. Seus cabelos negros, sua pele morena. Sua risada alta e doce.
Não acreditava no que estava vendo.
Era, com certeza, a mulher no qual um dia eu já fui apaixonado.
Ela estava grudada com um hipster de dreads que tinha o dobro do meu tamanho. Por Deus.
Eles riam e conversavam. Ela tinha um pote de sorvete de creme nas mãos.
Assim que eles se aproximavam, eu pensava no que dizer assim que nossos olhos viessem a se encontrar.
Com certeza ia ficar um clima estranho. Declarei meu amor doentio para ela em uma festa. Bêbado. Três anos atrás.
Desde então, eu nunca mais tinha a visto.
Já estava preparado, ia começar com um oi, seguido de um quanto tempo e quem sabe, dependendo da fila, perguntar como anda a vida.
Assim que se aproximava, ela olhou em meus olhos e passou.
Ela não me reconheceu. Não fez nenhum esforço mental. Nenhum lapso.
Concordo que eu tinha mudado, estava mais barbudo e mais acabado. Parecia que eu tinha trabalhado em uma construção pra ser mais exato.
Mas não me reconhecer? Eu que passei tantas noites em claro consolando ela, conversando e amando em segredo.
Como posso sobreviver sabendo que a pessoa que um dia foi minha amiga, a pessoa que um dia eu amei tanto, se...
O número na tela era um nove vermelho. Minha vez de passar minhas mercadorias.
Paguei meus três itens e fui embora fazer meu café da manhã às sete horas da noite.

domingo, 15 de junho de 2014

A Padoca

Foi engraçado. Estranho, mas engraçado.
O dono da padoca riu. Chamou sua neta e disse para trazer mais pães. Sempre que olhava pra mim, ele ria. Qual o problema?
Sim, eu estava com uma camiseta escrita "E até quem me vê lendo o jornal na fila do pão, sabe que eu te encontrei". Sim, tinha um "hermano" estampado. Sim, eu estava com um jornal na mão.
Mas e daí? Será que ele conhecia a música? Ou será que ele achou tal coincidência engraçada?
Bom, engraçada de alguma forma foi. Para ele é claro.
Mas o que me assustou foi a sua neta, sim, sua neta.
Seu João da padoca, ou "O Portuga", tinha claros traços, digamos, fortes em sua aparência.
Mas ela não.
Ah. A neta d'O Portuga. Que bela. Tão delicada.
E eu ali. Com a camiseta de ontem e o sono de anteontem. Só precisava de um copo de café e um pão com manteiga, pois sabia que não seria capaz de reproduzir tais elementos em minha casa.
Talvez meu estado tenha influenciado na percepção daquela garota. Quem sabe. Ou talvez ela seja bela assim.
O que importa é que eu comi meu pão na chapa, tomei meu café. Cheguei em casa e dormi.
Até que os dias em claros passados tivessem se esquecido por completo.
Até que aquela situação tenha se confundido com meus sonhos.
Até que eu consiga levantar e fazer meu próprio café.

Canção da Madrugada

Não era difícil de entender. Eu ainda era apaixonada por ela naquela época. Mesmo com tudo que aconteceu, mesmo que ela tenha quebrado minha louça, o vidro do meu carro e meu coração; ela era meu tudo.

Era o que eu tentava explicar para o Maurício. Um amigo, Maurício era daqueles que sempre podia chamar, se o lugar tivesse cerveja. Como um psicólogo, mas ao invés de pagar com ajuda do convenio médico, ou gastar uma boa grana por horas que duram 50 minutos cada, você o pagava com cerveja. É claro que os conselhos não eram bons, mas pelo menos ele te ouvia, até que a cerveja durasse, balançava a cabeça e dizia "é isso aê". Não era a melhor companhia, mas era o que eu tinha para o momento.

Eu contava o que tinha acontecido e ele tomava mais um gole de sua cerveja. Eu não parava de ordenar mais rodadas, minha história era longa. Ele prestava atenção em cada detalhe, as vezes fazia algum comentário inútil, ou até mesmo, uma piada de duplo sentido.  Me lembro bem, o bar já estava vazio e o garçom levantava as cadeiras. Meu relógio marcava quatro e meia da manhã. Mauricio terminou seu copo. Olhou pro lado. Voltou sua atenção a mim. Ele começou a falar "Chega cara, nenhuma cerveja do mundo paga tanta reclamação. Eu fiquei aqui por mais de seis horas ouvindo você falar daquela garota. Você ficou um mês com ela cara. Um mês! Acorda! Ela é louca e você é um insano por ainda gostar dela. Sem falar que foi você, você, que terminou com ela. Se toca rapaz!" Eu estava impressionando com o discurso de Mauricio. Em todos os anos em que eu conhecia o cara, ele nunca tinha demonstrado esse acesso de raiva, nunca tinha dito o que realmente achava.
É o que dizem, todo homem tem seu limite. O de Mauricio era grande, mas nem mesmo cerveja de graça podia faze-lo aguentar tanta reclamação.

Ele se levantou e foi embora me xingando. Tinha tirado o cara do sério.
Paguei a conta e fui andando para casa. Perdi mais um amigo com toda minha lamentação. Depois da terceira vez, você começa a perceber que o errado é você.
Apenas espero que Mauricio esqueça disso no outro dia, depois de tanta cerveja ingerida. Ainda tinha muito a lamentar.

sábado, 14 de junho de 2014

A Última Noite

Então, me conte sobre você.

E ela começou a falar. Lembro que era um sábado a noite. Estávamos em um desses mini restaurante francês. Comidas que não tinha nem ideia como pronunciar e regados a vinho. 
Eu a tinha conhecido a algumas semanas atrás. Era uma garota bacana, simpática e muito inteligente. Bonita. Ela me conquistou quando disse que adorava Bandeira e Pessoa; e parece que eu a conquistei quando disse que era escritor, ou pelo menos tentava ser. 
Ela falava do emprego dela como veterinária. Eu apenas ouvia suas histórias. Ria. Ela era engraçada, gesticulava bastante. Provavelmente era o vinho, ele fazia essas coisas com todo mundo. Ela me contava sobre sua paixão pelos animais, mas eu só conseguia pensar como eu odiava gatos naquele momento. Ela me mostrava a tatuagem de um pássaro que ela tinha. Estava indo tudo muito bem, até que ela parou. Eu ainda olhava para ela. Bebeu um gole de sua taça. Seus lábios estavam pintados de vermelho. Seus olhos tinham a cor de toda a beleza que eu nunca tinha visto antes. Ela voltou a falar, mas dessa vez perguntou sobre mim. Ela queria me conhecer. Isso era complicado. Como dizer a ela que eu era um falso escritor, que na verdade ganhava dinheiro com outras atividades administrativas? Nunca tinha vendido um livro que seja, mas vendi minha imagem de escritor a ela. Um pseudointelectual. Ela me contou histórias incríveis; já eu não tinha nada. A não ser que ela queira saber da minha discussão com meu vizinho de porta sobre os roubos de jornal e de sinal de internet. Eu realmente achei que ela não queria ouvir sobre isso. Então eu fiz o que qualquer homem na minha posição faria. Eu menti.
Contei as histórias mais fascinantes a ela. Disse que já atravessei a fronteira do Paraguai em um dia de bebedeira com os amigos. Minhas discussões com editoras e como elas eram totalmente vendidas e não entendiam o real significado da literatura contemporânea. Meu breve emprego como investidor da bolsa de valores e como eu evitei que várias pessoas falissem  na crise de 2008. Eu contei tudo que ouvi, que criei e que não existia. Agora era eu que gesticulava. Provavelmente o vinho.
Indiretamente eu contei a ela o que eu mais amava. Criar histórias. Mesmo que não contendo total veracidade nos fatos discorridos. Eu tinha criado um personagem incrível; e com toda certeza, ele tinha conquistado a garota com tanta beleza.
Eu paguei a conta quando nosso vinho chegou ao fim. Pegamos um taxi e paramos na casa dela. Ela tinha um gato. Eu odeio gatos, mas ele não podia me afetar ali, não meu personagem.
Depois que fui embora, nós nunca mais nos falamos. Talvez o fato de eu ter criado todo um roteiro para poder contracenar com ela tenha me deixado pouco atraído por sua conversa, seus lábios, seus olhos; talvez eu não saiba o que tenha feito, tenha agido como um babaca por nunca mais falar com ela e seja tarde de mais para voltar atrás com esse erro; ou talvez eu realmente não goste de gatos.

sexta-feira, 13 de junho de 2014

Sobre Escrever

Quando olhei no relógio, ele marcava duas da manhã. O sono não vinha.
Me levantei, peguei algumas tralhas que estavam em cima da mesa. Saí.
Estava frio. Deveria ter pego uma blusa.
Parei no primeiro bar e sentei na primeira mesa que avistei.
A sina do escritor.
Tinha papel e caneta. Agora um whiskey também.
Eu realmente não sei o porquê escrevo, como também não sei o motivo de beber. Sei que os dois se completam pra mim.
Escrever se tornou algo que alimenta meu ser, quando nada mais me cativava. Não havia mais luz. E mesmo sem conseguir escrever coisas alegres, eu fiquei mais alegre.
Mas já são três da manhã. O garçom resmunga algo sobre o gol de alguém.
Não tenho nada escrito no meu papel.
Me perdi pensando no que eu seria hoje, se eu tivesse pego um rumo diferente.
Mais feliz? Mais sonhador? Um romântico incorrigível?
Gosto de pensar que seria um cabeça-oca. Não teria encontrado a literatura que eu encontrei e talvez não tivesse me aprofundado no meu ser.
Teria sido mais um.
Chega.

Na mesa um copo vazio, notas de dez reais e uma papel escrito:

"Hoje eu me dei conta, que tudo que eu mais valorizo na vida hoje, é por sua causa. Sua vaca sem coração."


Sempre escrevi minhas verdades.
Estava na hora de dormir, o sol já ia raiar.
A qualquer momento, não teria mais aquelas estrelas.
Já estava acostumado. Todas as manhãs elas iam embora, mas todas as noites elas voltavam.
O que eu nunca sabia é se eu iria voltar.

quinta-feira, 12 de junho de 2014

No Lusco-Fusco

Era o que eu não queria. Voltar a escrever. Pior, escrever sobre você ao lusco-fusco. Tinha feitos planos, traçado metas.
Eu poderia escrever meus livros. Mas você não me sai da cabeça, então sou obrigado a transforma-la em literatura.
Como já fiz tantas vezes.

Cheguei ao fundo tantas vezes, que já sou conhecido dos que aqui habitam. O olhar no espelho, a madrugada que não termina. O celular que não toca e o copo que nunca esta vazio. Não me deixe chegar nessa combinação, não me deixe olhar pro espelho de novo, sozinho não.
Me sinto obrigado a ir embora. Deixar essa gritaria, essa festança. Me sinto na obrigação de achar alguém que se importe.

Mas ninguém se importa.

No escuro da memória, sua lembrança sempre me foi o lusco-fusco que me salvava. Nunca entendi como um dia poderia esquecer seu sorriso. Como um dia achar aquela foto faria anoitecer tão rápido pra mim.

Acho que perdi a calma.
Me perdoem aqueles que achavam que eu a tinha encontrado, pois eu também achava.
Quero descobrir se minha noite uma hora vai virar dia.
Mas quem sabe meu dia que virou noite.

O lusco-fusco pode cegar.