sábado, 7 de março de 2015

Eu sou

Os olhos dela eram cor de mel.
-Eram? Não são mais? Morreu?
Ainda são, mas quero me expressar assim.
- Ela faz parte do seu passado então?
Ela faz parte do meu presente, mas acho que fica mais bonito usar o verbo no passado.
- Eu sou a sua completa falta de estética.
Então fique quieto, minha falta de estética não fala.
Seus olhos eram lindos, cor de mel. E eu sentia seu medo de longe.
- E quem não teria medo?
Medo. Ainda não entendi o que você esta fazendo aqui.
- Estou tentando te ajudar a entende-la.
Nós nunca vamos entende-la. Aqueles olhos que hipnotizam, aquele sorriso reconfortante.
- Já parou pra reparar naqueles olhos cansados?
Primeira coisa que vi. Existe uma sabedoria escondida naquela alma que ela ainda não descobriu.
- E esse seu sorriso bobo?
Nosso sorriso bobo? Você sabe. Imagina a cena: Aqueles olhos meio fechados por conta da luz do sol. A luz faz brilhar ainda mais seu rosto. Ela te vê e te da meio sorriso. Meio sorriso é o bastante. E então ela afasta o cabelo do rosto colocando uma parte atrás da orelha, enquanto a outra rebelde, volta para seu lugar original.
- Só isso?
Preciso de mais o que? Quer uma trilha sonora? Fogos de artifícios? Um desfile do ano novo chinês? Ela não precisa de nada disso. Ela por si só basta. Dentro dela parte os maiores questionamentos da humanidade, apenas faltam palavras para se expressar.
- Mas e o medo?
Acho que todos nós sentimos medo.
- Nós ainda sentimos muito medo.
Sim. Doeu tanto, nos matou. Mas foi bom por um lado. Aquele frio na barriga, aquelas conversas de madrugada. Estar sozinho, mas nunca por completo. Da muito medo.
- Eu sou seu medo.
Eu sou seu passado, seu presente e seu futuro. E você era meu medo. No passado fica bem melhor.

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