quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

Real

Estava jogado novamente no chão de meu apartamento. Não tinha recordações o suficiente para descrever o motivo de meu corpo estar estirado ali, nem o local em que eu estava e nem com quem eu estava.
Meu apartamento era um breu. Sentia o frio passar por alguma janela aberta e sem poder fazer nada para mudar minha situação, lá fiquei.

- Querido, o que aconteceu com você?

Senti um abraço tão caloroso que me aqueceu daquele frio que eu sentia. Não conseguia responder suas perguntas, muito menos suas carícias.

- Está tudo bem agora. Eu estou aqui.

Estava tudo bem, ela estava comigo. Ela estava ali por mim até nesses momentos mais dolorosos e incapazes da minha vida. Eu podia senti-la como nunca. Seu amor, sua cautela, minha felicidade por tê-la ali. Por sua visão, provavelmente eu era um moribundo, mas mesmo assim, ela permanecia ao meu lado. Mas por que?
Senti um aperto em meu peito. Uma angústia que nunca havia sentido antes dominou meu ser. Eu quis gritar de medo, mas antes que eu pudesse fazer qualquer coisa, lágrimas começaram a rolar sem minha permissão. Elas escorriam pelo meu rosto e repousavam nos ombros dela.

- Não chore meu querido. Eu estou aqui. Somente eu e você.

Ela sentou-se ao meu lado e me aninhou em seu peito. Com uma das mãos ela acariciava minha cabeça, com a outra segurava com toda força do mundo minha mão. Eu não a merecia. Eu chorava e mesmo sem saber o porquê, ela continuava ao meu lado. Ela era minha rocha e só de pensar nisso as lágrimas escorriam mais e mais. Ela cantarolava musicas antigas para me acalmar, as vezes canções de ninar, as vezes Tom Jobim.  
Em algum ponto, entre lágrimas e músicas, caricias e apagões, eu reuni um pouco das minhas forças. Precisava contar de meus medos. O porquê de minha fraqueza. Ao sinal da primeira silaba sair de minha boca, ela me interrompeu imediatamente.

- Não precisa dizer nada querido. Palavras  só irão estragar este momento. Estragar sua cura.

Seus olhos eram sinceros, mas eu simplesmente não podia ser tão fraco. Eu não era fraco daquele jeito. Ela me amava acima de tudo, eu podia sentir. Ela merecia minhas explicações. Então sem hesitar, joguei minhas palavras mais sinceras. O que eu mais tive medo de admitir, aquilo que eu nunca achava palavras para me expressar. "Eu vi minha vida sem você querida. E eu tive medo pela primeira vez. Me perdi sem saber como continuar sem você, o que eu era sem você. Eu jurava que eu não ia aguentar mais uma hora que fosse sem você, simplesmente uma vida sem teu amor não é possível. Foi tão real e tão doloroso que sinto a magoa e aflição até hoje. Por favor, não me deixe querida. Me abrace até o fim."
Seus olhos encheram se lágrimas e suas mãos tremiam. Ela continuava a me olhar, até que beijou minha testa e me abraçou mais forte , cantou mais alto e mais do que nunca. Quando a melodia havia chegado ao seu fim e meus olhos já quase não ficava mais abertos ela sussurrou quase pra si mesma.

- Eu pedi para que não dissesse nada querido. Agora tudo é real.

Ela foi embora sem que eu percebesse. O breu no meu apartamento continuou e ficava cada vez mais frio. Aos poucos, eu ia me esquecendo dela, mesmo que eu não quisesse. Simplesmente, já não lembrava mais do seu rosto ao acordar.

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