quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

Platônico

"Não dá. Isso que a gente tem é amor platônico."

Foi a última coisa que ela me falou antes de levantar da mesa, sair pela porta da cafeteria e nunca mais dar notícias.
Passei muitos anos tentando entender o que foi aquilo. Um dia era paixão, no outro platônico.
Aliás, platônico?
Anos mais tarde fui descobrir o significado de amor platônico. Aposto que nem ela sabia. Viu que tinha amor no meio e usou pra não me magoar. Mas dizer que nosso amor só existe no plano espiritual é gozação. Que nunca houve interesse carnal ou material?
Hoje eu não diria platônico, querida.
Eu diria amor veneno, por ter me esquentado, queimado, doido de diversas formas. As vezes me tirando da realidade, as vezes me transformando em um pedinte de ar.
Doía tanto, que esse amor se transformava em algo tangível, que no ato de apertar o peito, era como se ele fosso concreto, massivo, como um tumor maligno no meu coração prestes a desencadear uma metástase.
Mas ao mesmo tempo, ele era um amor ópio, que me relaxava, fazendo esquecer minhas dores e meus problemas. Como se tudo fosse perfeito e a humanidade abençoada. Mas como no ópio, era tudo ilusão. No final as dores voltariam, com efeitos colaterais adicionais: falta de ar, tontura, ansiedade, apatia e deterioração intelectual.
Platônico? Só pode existir um amor platônico se os dois se sentirem da mesma forma, caso contrário, toda a filosofia por trás do platônico é quebrada.
Mas eu não sabia. Deixei estar. Baixei minha cabeça e aceitei o fardo de carregar um amor platônico pelo resto da minha vida. Porém, se naquela época você me dissesse que não dava por ser um amor socrático, eu compraria da mesma forma. Amor cego. Burro.
Hoje, de tudo que nosso amor foi, e de tudo que ele poderia ter sido, o mais perto que ele poderia ser denominado seria amor monolítico-egoísta. Um só ama.

O outro espera uma desculpa pra ir embora.

Nenhum comentário:

Postar um comentário